O livro Cristianismo Primitivo e a Teologia da Libertação, de Juan Luis Segundo, propõe uma análise profunda e provocativa sobre as raízes históricas e teológicas do cristianismo em diálogo com a Teologia da Libertação. A obra busca mostrar como os ensinamentos e práticas das primeiras comunidades cristãs guardam uma estreita relação com os princípios libertários defendidos por essa corrente teológica latino-americana.
Logo no início, Juan Luis Segundo estabelece uma crítica contundente ao distanciamento entre a teologia tradicional e os problemas sociais concretos vividos pelos pobres e oprimidos. Para ele, a Teologia da Libertação resgata a dimensão original do Evangelho, que nasce como resposta às injustiças e como proposta de transformação radical das estruturas sociais.
O autor volta-se então às origens do cristianismo, examinando os textos do Novo Testamento, especialmente os Atos dos Apóstolos e as cartas de Paulo. Ele argumenta que o cristianismo primitivo não era apenas uma doutrina espiritual, mas um movimento social de resistência e solidariedade, enraizado nas experiências concretas de comunidades marginalizadas do Império Romano.
Juan Luis Segundo critica a institucionalização do cristianismo ao longo da história, que, segundo ele, desfigurou o caráter subversivo e libertador da mensagem de Jesus. Para o autor, essa institucionalização contribuiu para tornar o cristianismo cúmplice das elites e das estruturas de opressão que deveria combater.
A obra mostra como, ao recuperar o espírito do cristianismo primitivo, a Teologia da Libertação propõe uma releitura da fé cristã a partir da realidade dos pobres. Juan Luis Segundo defende que é impossível compreender os Evangelhos fora do contexto de luta social e política em que foram escritos e vividos.
Outro aspecto central do livro é a análise hermenêutica. Juan Luis Segundo sustenta que toda leitura bíblica é condicionada por um ponto de vista e que, portanto, não existe neutralidade. Por isso, ele propõe uma leitura engajada e comprometida com a transformação do mundo, a partir da realidade concreta dos pobres, o que ele chama de “ponto de partida hermenêutico”.
O autor também critica o racionalismo teológico excessivo que ignora o clamor dos oprimidos. Para ele, a fé não pode ser apenas um exercício intelectual, mas precisa ser uma prática encarnada, vivida no compromisso com a justiça e a libertação. Nesse sentido, ele defende uma teologia feita a partir da práxis cristã concreta.
Em Cristianismo Primitivo e a Teologia da Libertação, Juan Luis Segundo propõe uma síntese entre fé e política, espiritualidade e engajamento, tradição cristã e realidade histórica. Ele reafirma que o seguimento de Jesus passa necessariamente pelo compromisso com os pobres e pela crítica profética às estruturas injustas da sociedade.
Ao final, a obra se consolida como uma poderosa contribuição para o pensamento teológico contemporâneo, especialmente no contexto latino-americano. Juan Luis Segundo mostra que o cristianismo, longe de ser uma religião conformista, nasce como força de contestação e esperança, e que sua mensagem continua viva na luta por libertação dos povos oprimidos.