“O Último Grande Herói”, de Danny Peary, é uma obra que investiga, celebra e disseca o filme homônimo lançado em 1993, estrelado por Arnold Schwarzenegger. O livro mergulha no contexto da produção cinematográfica, nas intenções narrativas e nos bastidores de uma das tentativas mais ousadas de misturar metalinguagem com ação hollywoodiana. Com um olhar crítico e analítico, Danny Peary oferece ao leitor uma leitura que vai além do entretenimento, refletindo sobre os limites entre a ficção e a realidade.
Desde o primeiro capítulo, Peary traça o pano de fundo do surgimento do filme, explicando como ele foi concebido como uma sátira ao gênero de ação, ao mesmo tempo em que se entregava às convenções desse próprio gênero. O autor detalha como o roteiro original buscava inovar, trazendo o jovem protagonista Danny Madigan para dentro do universo fictício do herói Jack Slater, interpretado por Schwarzenegger, criando uma narrativa que brinca com as fronteiras da quarta parede.
O livro destaca a complexidade de trabalhar com metalinguagem num filme comercial, e como isso influenciou a recepção crítica e do público. Peary analisa os momentos em que o filme acerta — principalmente na ironia sobre os clichês dos filmes de ação — e os momentos em que falha, especialmente por conta das expectativas frustradas de um blockbuster tradicional.
A análise de Danny Peary também recorre a uma série de entrevistas com os envolvidos no projeto, desde roteiristas e produtores até o próprio Schwarzenegger. Através desses depoimentos, o leitor entende como a visão inicial do projeto foi se diluindo diante da pressão comercial e das mudanças constantes durante a produção. Há um tom de desabafo nos bastidores, que revela as contradições do sistema hollywoodiano.
O autor reserva espaço para comentar o impacto que o fracasso comercial do filme teve na carreira de Schwarzenegger e na indústria cinematográfica da época. “O Último Grande Herói” chegou aos cinemas em um momento competitivo, sendo lançado próximo a Jurassic Park, o que contribuiu para seu desempenho abaixo do esperado. Peary interpreta esse momento como um ponto de inflexão, tanto para o astro quanto para a maneira como Hollywood lidava com gêneros híbridos.
Outro ponto forte do livro é a reflexão sobre o público-alvo e como o filme não conseguiu se comunicar claramente com ele. Danny Peary argumenta que, embora o filme fosse uma sátira sofisticada, ele foi promovido como um típico filme de ação, o que gerou frustração entre os fãs tradicionais e incompreensão entre os que buscavam algo mais intelectualizado.
Peary também faz um estudo dos símbolos e referências cinematográficas presentes no filme. Ele identifica uma série de homenagens e críticas a clássicos do cinema, personagens arquétipos e situações exageradas que apontam para o esgotamento da fórmula dos anos 1980 e início dos anos 90. Esse olhar intertextual contribui para valorizar o filme como uma obra mais rica do que sua bilheteria fez parecer.
Na reta final do livro, o autor defende que, apesar de seus problemas, “O Último Grande Herói” é uma experiência cinematográfica única. Ele o considera um filme à frente de seu tempo, que acabou sendo mal compreendido, mas que merece ser revisto com outros olhos — especialmente em uma era onde metalinguagem e ironia se tornaram comuns.
Em conclusão, “O Último Grande Herói”, de Danny Peary, é mais do que uma análise de um filme específico: é um estudo sobre o risco artístico, sobre o poder e os limites da sátira no cinema comercial, e sobre a luta entre autenticidade criativa e expectativas de mercado. A obra resgata um filme subestimado e o transforma em objeto de reflexão cultural profunda.