“A Mística do Seguimento de Jesus”, de José Antonio Pagola, é uma obra profundamente espiritual e transformadora, que convida o leitor a redescobrir o coração da fé cristã a partir do seguimento radical de Jesus de Nazaré. Com linguagem acessível e ao mesmo tempo intensa, Pagola propõe um retorno à essência do Evangelho, longe das estruturas religiosas formais e mais próximo da experiência concreta de viver como Jesus viveu.
Logo nos primeiros capítulos, Pagola destaca que seguir Jesus não é, antes de tudo, aderir a uma doutrina, mas comprometer-se com um modo de vida. Esse seguimento nasce do encontro pessoal com o Cristo vivo e da escuta atenta de seu chamado. O autor deixa claro que esse chamado não se dá apenas no plano intelectual, mas principalmente no nível existencial: seguir Jesus é deixar-se transformar por ele.
Pagola enfatiza a centralidade da compaixão na vida do discípulo. Inspirado na prática de Jesus, que se compadecia dos marginalizados, dos doentes e dos excluídos, ele afirma que o cristianismo autêntico se constrói a partir da solidariedade com os que sofrem. A espiritualidade, nesse sentido, não é fuga do mundo, mas um mergulho na realidade a partir da ótica do amor.
A obra analisa também os obstáculos que impedem o seguimento verdadeiro. Entre eles, Pagola denuncia a rigidez legalista, o moralismo vazio e o apego às tradições que obscurecem a mensagem libertadora do Evangelho. Para ele, muitos cristãos acabam seguindo uma imagem distorcida de Jesus, construída mais por costumes culturais do que pelo espírito do Evangelho.
Ao longo do livro, o autor resgata o perfil humano de Jesus, apresentando-o como alguém profundamente livre, coerente, generoso e próximo do povo. Pagola insiste que a mística do seguimento não se sustenta sem essa identificação viva com o projeto de Jesus: o Reino de Deus como um novo modo de convivência marcado pela justiça, paz e fraternidade.
Há também uma crítica velada às estruturas eclesiásticas que muitas vezes obscurecem o rosto de Cristo. Pagola propõe uma Igreja em saída, mais missionária e menos centrada em si mesma, cujo testemunho seja simples, alegre e comprometido com os pobres. Essa visão é inspirada no próprio estilo de vida de Jesus, que não fundou uma instituição, mas inaugurou um caminho.
A mística do seguimento, segundo Pagola, exige decisão e fidelidade. Não se trata de uma experiência superficial, mas de uma conversão permanente que afeta todas as dimensões da existência: o modo de se relacionar com os outros, o uso dos bens, o tempo, os projetos pessoais. É, por isso, uma proposta radical, que exige coragem e abandono.
Nos capítulos finais, o autor apresenta experiências concretas de vivência cristã inspiradas nessa mística: comunidades vivas, solidariedade cotidiana, oração encarnada e abertura ao Espírito. Ele reforça que o seguimento de Jesus só pode ser compreendido plenamente na vivência comunitária e na partilha de vida entre irmãos e irmãs de fé.
Em suma, “A Mística do Seguimento de Jesus”, de José Antonio Pagola, é um chamado profundo à autenticidade cristã. É um convite ao encontro pessoal com Jesus, à vivência do Evangelho com radicalidade e alegria, e à construção de uma Igreja fiel à sua missão no mundo. Uma leitura que inspira, provoca e transforma.